quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Sobre viagens e batalhadores do Interior

Como o Luiz falou no post anterior, o Coletivo Caimbé caiu na estrada semana passada.

Estivemos na quarta (28) no Cantá, a 89 km asfaltados de Boa Vista. Exibimos filmes e falamos sobre animação para crianças, jovens e adultos. A parceria com o pessoal da Associação Brasileira de Cinema de Animação, a Prefeitura do Cantá, o Centro Regional de Ensino e o Sesc Roraima permitiu que a comunidade conhecesse um pouco sobre este tipo de filme e ampliasse seus horizontes.

Na sexta (30), feriado por conta da passagem do Dia do Servidor Público, comemorado na quarta, caímos para outra banda de Roraima. A Vila Nova União fica na zona rural do Cantá, a 130 km apenas parcialmente asfaltados de Boa Vista.


Pensem nisso no inverno...

A estrada de piçarra parecia não ter fim. Em alguns momentos lembrava uma montanha-russa, com morrinhos bons para se descer numa bike.



Senhor, será que chegaremos lá?

Bifurcações e pedidos de orientação depois, finalmente chegamos na vila, longe demais da Capital para ter conexão com internet que não seja a do programa de inclusão digital Gesac, longe demais para ter acesso à rede de telefonia celular, mas bem perto para a molecada ficar antenada no Youtube e no Orkut, como descobrimos depois.

O projeto Grandes Nomes da Literatura é muito bacana. Mistura letras, teatro, artes plásticas e atividades físicas na dose certa para animar a vila, que tem 120 casas aproximadamente.

A escola Otilia de Sousa Pinto estava tomada por desenhos e quadros feitos pelos alunos a partir de obras de Portinari e outros artistas que registraram o ambiente das obras de Graciliano Ramos.

Para reforçar a ambientação, a escola preparou uma degustação de pratos típicos do sertão, como carne seca com mandioca e bolo de milho. A turma partiu pra cima sem pena.

Gostei muito dos quadros, alguns pintados sobre papel reciclado feito pelos próprios alunos. A intenção do professor José Vilson Martins Filho, um dos organizadores do evento, é fazer uma exposição em Boa Vista no final do ano ou no começo de 2010, trazendo alguns dos jovens pintores para a Capital. Entre eles deve estar Evandro, que mora numa vicinal a 59 km da escola, onde trabalha como monitor.

A programação deste ano foi ampliada com a participação do Coletivo Caimbé, que levou as oficinas de massinha do Tana Halú e de montagem de blog com Luiz Valério. Aproveitamos também o embalo do Dia Internacional da Animação e fizemos uma sessão de vídeos infantis numa das salas da escola. A turminha se amarrou.






Turminha com a mão na massinha


A distância da Capital e a falta de opções de lazer estimulam os professores a tocar projetos que afastem a juventude de coisas como as drogas. A vila fica na região das Confianças, a preferida para procurados pela Justiça e jurados de morte se esconder. Quando se entocam nas vicinais, geralmente levam com eles pacotes com ervas do diabo para consumir e vender.

Outra preocupação dos docentes é a questão do sexo precoce. Como eu já fui de cidade pequena (não tão pequena como a vila), sei que a primeira coisa que se aprende nas tardes de sábado é a beber e a cantar as meninas para ir brincar de médico. Fora isso tem a própria falta de expectativa do crescimento pessoal. Ou seja, é um cenário em princípio desanimador.




Oficina de criação de blog


Para combater isso, os professores se viram como podem e buscam suas parcerias. As vitórias já começam a aparecer. Veja algumas:

[1] A escola ficou em segundo lugar neste ano no festival estudantil Visconde de Sabugosa, do qual participou pela primeira vez. Ganhou de várias outras que investem pesado há anos no incentivo ao teatro. A peça também foi apresentada em um bosque situado atrás da escola, com participação de comunidade.

[2] Montou parceria com o Instituto Federal de Roraima para montar uma horta orgânica que abastece a merenda da escola. A intenção é levar o conceito para as famílias e melhorar a nutrição de todo mundo.

[3] Participa do 1º Prêmio Femact de Incentivo à Gestão Escolar Ambiental e Cidadania. Paredes que ganharam quadros, aulas para reciclar papel, recuperação do bosque que fica atrás da escola e outras ações semelhantes fazem parte das metas atingidas.
Ou seja, essa escola é porreta!

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